Austen e austeridade

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Entre as várias efemérides de âmbito cultural, e, especificamente, literário, que se celebra(ra)m neste ano de 2013 está o bicentenário da primeira edição de «Orgulho e Preconceito» de Jane Austen: foi em Janeiro de 1813. O muito famoso romance, que tem como protagonistas as personagens Elizabeth Bennett e Fitzwilliam Darcy, tornar-se-ia um dos mais preferidos, citados e adaptados (a teatro, cinema e televisão) nos 200 anos seguintes, e não apenas nos países anglófonos. Além disso, e o que é particularmente significativo e demonstrativo do seu contínuo sucesso e carácter intemporal, transformou-se numa fonte aparentemente inesgotável de influência e de inspiração para diversas variações, sequelas, paródias e continuações…

… Das quais a mais conhecida de todas é, muito provavelmente, uma que se insere na ficção científica e fantasia, e, mais concretamente, no terror e no horror: «Orgulho e Preconceito e Zombies», escrita por Seth Grahame-Smith, autor também de «Abraham Lincoln, Caçador de Vampiros». Em Portugal, a tradução da versão «morta-viva» de «Pride and Prejudice» foi editada dentro da mesma colecção – 1001 Mundos – em que saiu «Espíritos das Luzes». E o «filão sobrenatural» derivado de «P & P» não se esgotou aí: foram lançadas posteriormente os trabalhos «Pride and Prejudice and Zombies: Dawn of the Dreadfuls» e «Pride and Prejudice and Zombies: Dreadfully Ever After», ambas escritas por Steve Hockensmith. E, claro, há que referir igualmente «Sense and Sensibility and Sea Monsters», elaborada por Ben H. Winters, mais uma demonstração de que, quando se trata de «povoar» os seus livros com criaturas estranhas, Austen não é sinónimo de austeridade!

No mesmo ano em que «Orgulho e Preconceito» foi editado, Jane Austen visitou (em Maio, logo, quatro meses após a publicação do seu livro) em Londres uma exposição retrospectiva – talvez a primeira no seu género – do pintor Joshua Reynolds, que falecera 21 anos antes. E este facto constitui mais uma prova de como a vida e a obra desta escritora se presta ao… fantástico: com base em descrições e em relatos da iniciativa, incluindo a lista/catálogo dos quadros expostos e as dimensões das salas onde aqueles se situavam, uma equipa do Colégio de Artes Liberais da Universidade do Texas desenvolveu um projecto denominado «What Jane Saw» com o objectivo de recuperar e reconstruir virtualmente aquela exposição, de proporcionar-nos, hoje, uma experiência o mais aproximada possível da que a escritora sentiu naquela – a sua – época. Sim, faz lembrar, tem semelhanças com… a «Ópera do Tejo». Ambos os projectos são, de certo modo, viagens no tempo.

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