… E o futuro, por um dia, «regressou»

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Ontem foi o «Dia “Regresso ao Futuro”», assim denominado porque a data esteve em destaque na segunda parte da trilogia, lançada em 1989 (quatro anos depois do primeiro filme, que este ano comemora três décadas de idade, e um ano antes do terceiro, que por isso assinala agora o seu 25º aniversário), realizada por Robert Zemeckis, escrita por Bob Gale e protagonizada por Michael J. Fox e Christopher Lloyd – as personagens destes, respectivamente Marty McFly e «Doc» Emmett Brown viajam até… 21 de Outubro de 2015.

O acontecimento – mais uma coincidência do que uma verdadeira efeméride – constituiu o pretexto para uma multiplicidade de evocações… que, aliás, começaram bem antes de ontem e que certamente se vão prolongar por mais algum tempo. Evocações sob a forma de notícias, reportagens, reflexões, reposições (dos próprios filmes e de imagens de arquivo com eles relacionadas), enfim, de muitos, mesmo muitos memes audiovisuais entre o sério e o divertido, com origem nas áreas da comunicação social, entretenimento, redes sociais… E até várias companhias industriais, como a Toyota, a Pepsi e a Nike, marcas referidas explicitamente no segundo filme e que agora participaram com novos anúncios e até mesmo novos produtos: no caso da fabricante de automóveis o já conhecido modelo Mirai (movido não a lixo mas sim a hidrogénio); no caso da fabricante de bebidas, criando a variante Perfect (imaginada no filme); e no caso da fabricante de vestuário desportivo os mesmo novos, e autênticos, Mag, que se atam sozinhos!

Tudo, ou quase, que aconteceu, que se fez, sobre o assunto pôde, e pode, ser conhecido, por exemplo, no live blog promovido pelo jornal britânico The Guardian (primeira parte, segunda parte). Na (norte-americana) revista The Atlantic seleccionaram-se «55 (por causa de 1955, claro) coisas da Internet» relativas à trilogia. No também jornal britânico Daily Mail procedeu-se a uma análise das previsões tecnológicas que se concretizaram (mais ou menos) ou não. Porém, a previsão do filme de 1989 que nestas últimas semanas mais sensação causou não foi tecnológica mas sim desportiva: naquele foram os Chicago Cubs os vencedores do campeonato norte-americano de baseball (as denominadas World Series)… o que em si era uma piada pois o clube da «Windy City» era então um dos mais fracos e não era campeão há quase 100 anos; pois bem, em 2015 os Cubs, no seu melhor desempenho das últimas décadas, chegaram às meias-finais (ontem, no quarto e último jogo, foram derrotados pelos New York Mets)! E nem a política escapou à atracção do «Dia “Regresso ao Futuro”»: tanto a Casa Branca de Barack Obama como vários dos candidatos a presidente pelo Partido Republicano aludiram ao acontecimento.

Esta (saudável) mania, esta (divertida) obsessão que tomou conta do Mundo, e em especial dos países anglófonos, durante um (intenso) dia constitui mais uma demonstração de como a ficção científica e o fantástico são, efectivamente, o sub-género cultural superior, mais influente, mais atraente. Porque, simplesmente, o simples acto de apontar para uma data, ou ano, uma época no futuro (ou para um passado e/ou realidade alternativos), acaba invariavelmente, quando o momento é chegado, por «obrigar» a fazer uma verificação do que foi previsto e do que de facto aconteceu e/ou existe – um esforço intelectual de retrospectiva, de investigação que é só por si um tributo à imaginação e um contributo à realidade… e à ciência. Isso já tinha acontecido em 2001 por causa do filme homónimo (e obra-prima) de Stanley Kubrick, realizado em 1968. O que acontecerá em 2019, ano em que se desenrola a acção de «Blade Runner», realizado por Ridley Scott em 1982?

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