Sub

*Estado: Inconsciente

Log on. Entrei no canal. Passei os olhos pelo ecran. Entrei noutro canal.

Não estava ninguém. O branco do ecran feria-me os olhos. Enervei-me e iniciei todos os programas de ataque. Pingaram-me. O R. estava on-line. Não tinha dado por ele, misturado com o branco do fundo. Li os insultos de R., que eu tinha acabado de infectar com o virus pduirhg95! Ri-me alto.

A Central chamou-nos para as naves. Desliguei.

Atravessei o hangar enquanto vestia a camisa do uniforme. O capacete debaixo do braço atrapalhava-me.

Cheguei à nossa bela nave branca, que também me feria os olhos. Abri o cockpit.

R. já lá estava. Discutimos brevemente o destino e ouvimos as sub-ordens da Central. Descolámos.

*Estado: Semi-consciente

(estoumaldispostodeixameempaz)

*Estado: Inconsciente

– Depois do tele-transporte, percorremos o Mundo desconhecido em estado de alerta permanente, de Phasaks em punho:

Era um corredor interminável. De um lado uma parede branca (que por acaso também me feria os olhos), do outro uma rede de metal que nos separava de campos verdes, imensos e desertos. O corredor cinzento era tudo o que tínhamos pela frente.

Depois de umas centenas de metros a parede alva interrompeu-se. Uma grade de ferro oxidado guardava o que parecia ser um quarto antigo, dentro da parede.

R. olhava estupefacto para todos aqueles móveis ultrapassados, cobertos de pó e teias de aranha, ali religiosamente guardados sem motivo aparente.

Uma figura humana espantou-nos de repente. Era uma senhora de muita, mesmo muita idade. Os longos cabelos grisalhos escorriam-lhe pelas vestes brancas (ai os meus olhos).

Mas era bela, arrebatadoramente bela. Os seus olhos exprimiam mais ternura que qualquer mãe que tivéssemos conhecido.

O seu rosto parecia estar em constante transformação: ela rejuvenescia em frente dos nossos olhos! De bela passava a ainda-mais-Bela!

Apesar de nunca a termos visto, tanto eu como R. sabíamos que ela se chamava Zuzanna. Pronunciámos apenas as palavras necessárias para que a telepatia não se tornasse desconfortável. Ela respondia com uma voz tão doce que chegava a ser sedativa.

Aos pés de Zuzanna saltitava uma coelhinha branca, de olhos vermelhos brilhantes. Acariciei-a enquanto fazia as perguntas da praxe. Ela mordiscou-me os dedos, primeiro suavemente, depois enterrou-me as presas afiadas na carne!

“Cuidado! Que ela suga-te o sangue!”, disse Zuzanna aflita, aparentando agora cerca de trinta anos.

R. e Zuzanna baixaram-se em meu socorro, mas nem as nossas cinco mãos conseguiram abrir as mandibulas da coelha, que avidamente me retirava toda a energia do corpo. Zuzanna pontapeou então o animal contra a rede de metal. A coelho-vampiro soltou guinchos agudos enquanto desaparecia pelo corredor fora. R. seguiu-a, sob o pretexto de querer explorar mais aquele corredor insólito.

Deixou-me sozinho com Zuzanna, que tinha agora pouco menos de vinte anos. Uma rapariga que resplandecia em toda a sua forma. Os seus cabelos louros eram raios de luz celeste, enviados pelo próprio Deus como oferta à sua amada Mãe Natureza. Os seus olhos verdes acastanhados luziam de tal maneira que me faziam lembrar os poços de Esmer, que dizem cegar qualquer homem que lhes olhe directamente para o fundo.

Ela explicava-me coisas que me faziam rir e chorar ao mesmo tempo, mas nas profundezas da minha alma. A transferência de emoções era tão rápida que as minhas expressões faciais não a conseguiam acompanhar. Eu apenas lhe acariciava e beijava o rosto perfeito, enquanto ouvia aquela voz melodiosa que fazia o mel parecer amargo.

“Não há respostas para as perguntas da vida e da morte”- dizia ela – “apenas perguntas.” e sorria. Com um sorriso que me fazia tremer as pernas e pensar que em toda a minha vida eu só tinha visto coisas feias até a ter conhecido.

“Quero ficar contigo para sempre. . . “, dizia-lhe eu . . . era tudo o que me vinha à cabeça; isso, e ter os lábios encostados à sedosa pele de Zuzanna.

“Não podes ficar aqui”, respondeu-me ela triste, “acabavas velho e cheio de pó como o Quarto-Antigo. Não penses sequer numa coisa dessas.”

Esta frase foi como um terramoto na minha alma. Compreendi-a perfeitamente e levantei-me de seguida; depois de abraçar pela ultima vez a Zuzanna de oito anos de idade.

Parti de volta à nave.

R., como sempre, já lá estava. Regressamos à Estação Temporal sem trocar uma única palavra.

*Estado: Semi-consciente

*Estado: Inconsciente

– Depois do fim do serviço, encontrei-me no bar com a minha amiga Mary, e contei-lhe a minha viagem e o meu encontro com Zuzanna; enquanto esperávamos que nos servissem os “efacs”.

Mary escutou-me sem abrir a boca. Quando chegaram os dois “efacs” ela verteu o açúcar e, com duas goladas rápidas, bebeu-os aos dois. Afastou-se de mim olhando para trás a sorrir, sem palavras.

*Estado: Consciente

– End Report

 

%d bloggers like this: