Um «mordomo» em Monserrate

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O Parque e o Palácio de Monserrate, em Sintra, têm «inscritos» na sua história, e entre outras individualidades, dois ingleses que foram «protagonistas» de dois projectos literários meus: William Beckford («Espíritos das Luzes») e Alfred Tennyson («Poemas»). Ambos visitaram aquele espaço aquando das suas viagens a Portugal, tendo aliás o primeiro até residido nele! A beleza natural foi complementada pela beleza arquitectónica; o palácio, que decaiu e se degradou durante décadas, foi, felizmente, recuperado, e agora está dotado de um sistema tecnológico que, há não muito tempo, poderia ser classificado como pertencendo apenas ao domínio da ficção científica: o «FalaComigo».

Apresentado como «o primeiro do género em Portugal», este projecto procedeu à criação de duas personagens virtuais interactivas com objectivos de divulgação, ensino e entretenimento: são elas Sir Francis Cook, (verídico) proprietário do palácio, e Edgar Smith, o seu (fictício) mordomo, que «servem de agentes pedagógicos na transmissão da informação, vestidos ao estilo do século XIX e presentes ao longo da visita». Essa transmissão, e essa interacção, são feitas através de «vários dispositivos fixos e móveis» e em cinco fases, cinco tipos diferentes de plataformas digitais ou spots: «Welcome», «Talking», «Learning», «Action» e «Moving». Ou, por outras palavras, é um mecanismo que «recebe» e «conduz» os visitantes através das diferentes salas do palácio, «respondendo a perguntas e partilhando informação e imagens sobre a História, as histórias, os habitantes e o amplo proje(c)to de restauro daquele local.» O «FalaComigo» demorou três anos a ser concluído, envolveu um investimento de um milhão e 300 mil euros (co-financiado pelo Quadro de Referência Estratégica Nacional) e a participação de sete entidades (empresas e institutos universitários) congregadas em consórcio. Mais informações podem ser obtidas aqui (apesar de estarem «escritas» segundo o abjecto «acordo ortográfico»); a aplicação respectiva pode ser descarregada aqui.

O «FalaComigo» tem para mim e para a Simetria um factor adicional de interesse porque uma das pessoas que nele participou mais activamente – enquanto investigadora do INESC especialista em processamento de linguagem natural – foi Luísa Marques da Silva Coheur, que, no ano passado, e em entrevista ao sítio Ciência Hoje, adiantava já algumas das características técnicas da iniciativa. Ela não só é membro da nossa associação, tendo aliás a sua intervenção sido fulcral na instalação da (nova) sede da Simetria, e dos materiais desta, no pólo do Instituto Superior Técnico (onde é professora assistente) no Taguspark; também participou, a meu convite, nas antologias de contos «A República Nunca Existiu!» e «Mensageiros das Estrelas»; a colecção «Bibliotheca Phantastica», dirigida por António de Macedo na (já extinta) editora Hugin, em que eu estive representado com «Visões» e ela com «Sete Histórias por Acontecer», foi onde nos «conhecemos». Tal como Luís Miguel Sequeira, ela constitui um dos (muito) poucos exemplos em Portugal de uma pessoa que escreve FC (& F) e, simultaneamente, faz ciência que pode transformar em facto o que antes era só ficção. Parabéns à Luísa, e duplamente: pela realização do projecto «FalaComigo»; e pelo seu aniversário, que se celebra hoje.

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