Hoje assinalam-se e celebram-se os 50 anos da chegada dos primeiros seres humanos, dos primeiros homens, à Lua. Foi e é sem dúvida não só o feito tecnológico mais importante, mais notável, da história da Humanidade mas também, pura e simplesmente, o momento mais marcante, culminante, daquela. E, obviamente, constituiu igualmente o ponto mais alto – literal e figuradamente – da história dos Estados Unidos da América, nação à qual o Mundo ficou a dever as suas melhores horas de sempre – e à qual, aliás, já devia outras quase tão memoráveis.
Infelizmente, e como era previsível, nem todos, incluindo, incrivelmente, nos EUA, estão inteiramente convencidos da importância da efeméride e do facto que lhe deu origem, e não hesitam, mesmo que das formas mais ridículas, a desvalorizar e a relativizar a viagem pioneira de Edwin «Buzz» Aldrin, Michael Collins e Neil Armstrong. Entre os «suspeitos do costume» estão sempre o New York Times e o Washington Post, e, mais uma vez, agora nesta semana de festejos patrióticos, aqueles pasquins, sempre subliminarmenre sediciosos (recorde-se o caso dos «Papéis do Pentágono») e frequentes apologistas de comunistas, não «desiludiram» e deram os seus «relevantes» contributos: o primeiro enalteceu a (alegada) maior «diversidade» do rival programa espacial da União Soviética, e o segundo lamentou a (suposta) «cultura» branca e masculina (tóxica?) predominante no programa Apolo.
Não será, pois, completamente despropositado e errado afirmar que muitos dos que escreviam e escrevem naqueles jornais e em outros media não se teriam excedido no seu luto se em 1969 a missão que se pretendia ser bem sucedida e gloriosa tivesse falhado e acabado em tragédia. Afinal, as viagens espaciais tripuladas eram e continuam a ser tarefas muito perigosas. Nem seria necessário para o comprovar lembrar os desastres que atingiram dois vaivéns, o Challenger (em 1986, na partida) e o Columbia (em 2003, na chegada), de que resultaram 14 mortos; em 1967 três astronautas morreram não em vôo mas em terra quando um incêndio deflagrou na cabina em que estavam – e de que não puderam sair – durante um teste. Logo, a hipótese de algo correr mal, em parte ou totalmente, dois anos depois era, apesar de todas as verificações prévias que se pudessem fazer (e fizeram-se), possível de se concretizar. Havia que estar preparado para todos os cenários prováveis…
… E isso incluiu um segundo discurso, alternativo, que o então Presidente Richard Nixon – cuja administração, «feitas as contas», considerando o «deve» e o «haver», teve um desempenho positivo que o (sobrevalorizado) «escândalo Watergate» não diminuiu – teria de proferir perante um país consternado se o pior tivesse acontecido. Agora conhece-se o teor desse texto: «O destino ordenou que os homens que foram à Lua para a explorar em paz ficarão na Lua para nela descansarem em paz. Estes bravos homens, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, sabem que não há esperança na sua salvação. Mas eles também sabem que há esperança pela Humanidade no seu sacrifício. Estes dois homens estão a deixar as suas vidas ao serviço do objectivo mais nobre da Humanidade: a procura da verdade e do entendimento. Eles serão lamentados pelas suas famílias e pelos seus amigos; eles serão lamentados pela sua nação; eles serão lamentados pelas pessoas do Mundo; eles serão lamentados pela Mãe Terra que se atreveu a enviar dois dos seus filhos para o desconhecido. Na sua exploração eles acicataram as pessoas do Mundo a sentirem-se como uma só; no seu sacrifício eles juntaram mais apertadamente a irmandade do homem. Em dias antigos os homens olhavam para as estrelas e viam os seus heróis nas constelações. Nos tempos modernos nós fazemos praticamente o mesmo, mas os nossos heróis são homens épicos de carne e osso. Outros se seguirão, e certamente encontrarão o seu caminho de regresso a casa. A demanda do Homem não lhe será negada. Mas estes homens foram os primeiros, e eles permanecerão muito perto dos nossos corações. Porque cada ser humano que olha para a Lua nas noites que virão saberá que existe alguma esquina de outro mundo que é para sempre humana.»
Um discurso alternativo que como que invoca uma realidade alternativa. Não só a das hilariantes teorias da conspiração que defendem que a chegada à Lua nunca aconteceu e que tudo não terá passado de uma competente encenação quiçá dirigida por Stanley Kubrick, que no ano anterior vira ser estreado o seu – espantoso, extraordinário – filme «2001, uma Odisseia no Espaço»; mas também a dos criativos exercícios de especulação – histórica, social, cultural… enfim, científica – de que os bons autores de FC & F são capazes. Como, por exemplo, o de Luís Filipe Silva, há dez anos. E outros, estrangeiros, com mais de cinco décadas, que João Seixas, ainda em 2009, seleccionou e reuniu na sua antologia de contos «Com a Cabeça na Lua». (Também no Obamatório.)