Continuam no entanto as críticas que, apesar de simpáticas e agradáveis, mostram tristemente que não entenderam. Mesmo havendo espaço para melhorias (e uma história nunca está acabada enquanto se poder desdobrar na sua complexidade), ainda assim acredito que a mensagem não deve ser enfiada a martelo na cabeça do leitor. Eis um problema da Ficção Científica e do Fantástico em geral, géneros ainda demasiado destinados à criança dentro de nós sem se compenetrar que a criança não é mais que um adulto - inexperiente mas adulto. Entendo que isso possa prejudicar a experiência das carapaças cranianas demasiado espessas para certas subtilezas da literatura, mas infortúnios genéticos não são culpa do estabelecimento.
Será Um Problema De Excessiva Subtileza? Confesso que fico incerto se será desentendimento do conto ou do leitor. E mesmo sendo de ambos, qual se esforçará menos. Poucas mas honradas pessoas conseguiram despertar para a revelação completa do monstro que se esconde no narrador, um maior monstro do que possivelmente o regime fascista em que decorre parte da acção. Está lá, escondida nos últimos parágrafos da história, em tons suaves e discretos. Releio e está lá. E se essas pessoas descobriram, sei que outras descobrirão. Ficou ainda mais explícita entre a primeira versão, publicada na Bang! 1, e a publicada no Imaginários 2 e aqui ao lado. Também sei que, se essas pessoas descobriram, foi por que se preocuparam e releram. Não ficaram contentes até descortinarem a razão de ser do conto. Uma razão de ser que só se consegue perceber quando: a) se tenta dar resposta à principal dúvida: porque queria este protagonista recuperar a casa com tanto afinco?, e b) se entende a recuperação do vigor aquando da chegada a casa, não como uma metáfora literária, mas como uma descrição literal própria da Ficção Científica.